domingo, 6 de março de 2016

Porque as iscas artificiais funcionam?

 


Vista do barco, a superfície tranqüila e espelhada da lagoa, esconde a selvagem luta pela vida, que acontece sob suas águas. 

 
Ali num delicado equilíbrio natural, convivem presas e predadores, sob as leis da sobrevivência. 
Diariamente, predadores alimentam-se de peixes forrageiros, que tem na agilidade sua melhor defesa. 
Se de um lado os predadores estão sempre a espreita de uma refeição mais fácil, de outro lado os forrageiros mantém vigília constante para não virar a próxima refeição. 
A escolha recai sempre sobre aqueles que apresentam o comportamento mais debilitado. 
E assim segue o delicado equilíbrio pela sobrevivência. 
Se por um acaso, você resolver devolver a estas águas um peixe fisgado, é muito grande a probabilidade que ele venha a integrar o cardápio de algum predador. 
Mas espere, como pode ser isto, se ainda a pouco este mesmo peixe estava nadando neste local sem ser importunado pelos outros peixes? 
A explicação é simples. 
Ao ser fisgado o seu peixe lutou com todas as forças, pela própria vida, chegando próximo da exaustão, isto sem contar o stress do pavor. 
Assim ao ser devolvido as águas, ainda em estado de choque, ele é imediatamente identificado como uma refeição fácil. 
E daí a ser devorado, é um passo. 
A esta altura você já entendeu que este é o principio básico da isca artificial. 
O nado errático das artificiais, tem a exata finalidade de imitar um peixe com problemas, o que na linguagem dos peixes quer dizer uma refeição fácil. 
Baseado neste simples conceito, criou-se uma imensa indústria ao redor do mundo. 
E também uma gigantesca legião de pescadores esportivos, com um apetite insaciável por novidades. 
Apesar de os japoneses terem elevado a qualidade das iscas artificiais ao extremo da perfeição, a tal ponto que dá para quase montar um aquário com elas, ainda não ficou claro se realmente o acabamento faz tanta diferença para o peixe. 
 
Pois iscas com acabamento bastante simples, muitas vezes tem apresentado resultados superiores. 
Um bom exemplo são as heddon spock jr, que tem o formato de uma cápsula com dois olhos e mais nada, e no entanto estão entre as melhores iscas de superfície. 
 
Tem também a lampejinho da Moro & deconto, que apresenta ótimos resultados na categoria de meia agua. 
 
Claro que as japonesas também apresentam excelentes resultados. 
Mas a questão principal, a meu ver, não esta no acabamento e sim na apresentação. 
As iscas que conseguem transmitir ao predador, de forma mais eficaz, que são uma refeição fácil, são as que tem maior sucesso. 
E não as que necessariamente são mais bonitas. 
Desta forma, cabe ao pescador preocupar-se em dar vida a sua isca, para obter os resultados desejados. 
Neste momento é preciso pensar como um peixe, conhecer os hábitos do predador, e colocar-se no seu lugar. 
Não adianta ficar jogando a sua isca em qualquer lugar, predadores não costumam ficar a espreita em locais abertos, logo galhadas, pedras e troncos passam a ter a preferência. 
Se houver uma corrente ou maré no local, provavelmente os predadores estarão nas áreas de remanso, as espreitas do que a corrente lhes trará. 
Então pinchar um pouco antes e deixar a corrente levar a isca até o local, é uma decisão acertada. 
E precisa dar vida à isca. 
Peixes não são burros, eles vêem paus e folhas passarem boiando o dia inteiro, e sabem diferenciar muito bem um objeto de uma possível refeição. 
Não vão perder tempo, nem despender esforço se não tiverem certeza que é comestível. 
Cada isca precisa ser trabalhada à perfeição, porém isto precisa ser feito, antes da pescaria. 
Primeiro treine e muito, com cada isca que irá levar. 
Só assim, conhecendo o potencial de cada isca, você poderá realmente realizar grandes pescarias. 
Imagine que a sua caixa de pesca é uma caixa de ferramentas, e cada isca uma ferramenta, cuja finalidade é ajuda-lo a resolver um problema, no caso capturar um peixe. 
Como a captura do peixe varia conforme as condições de cada dia, maré, clima, luminosidade, transparência da água, você precisa da ferramenta (isca) certa para resolver o problema. 
Então conhecer a finalidade de cada ferramenta (isca) a fundo, é essencial para a solução do problema. 
As horas da pescaria, são nobres, e devem ser aproveitadas ao máximo. 
Ficar pinchando um monte de iscas diferentes, nas horas nobres, é o mesmo que jogar na loteria. 
Já notou como pescadores que pescam com maior assiduidade, pegam mais ? 
É porque eles se adestraram na continuidade das pescarias. 
A prática contínua, propicia o timing mais correto no manejo da vara, que por sua vez irá produzir o movimento mais real na isca. 
É tudo uma questão de treino, treino e mais treino. 
Estando na cidade, pode-se treinar em lagos de parques, piscinas de condomínios, etc. 
Procure conhecer cada modalidade de isca. 
O trabalho de um stick é bem diferente de uma meia água. 
E também existem vários tipos de sticks, cada um com o seu próprio trabalho. 
 

Os sticks mais curtos e gordos tem um trabalho bem diferente daqueles compridos e finos como uma caneta. 
Os primeiros são muito bons para causar comoção na superfície, já os segundos, por sua forma afilada, prestam-se muito bem a um trabalho adicional de sub-superfície também. 
 
Nas iscas de meia água, temos as que flutuam com rapidez, as mais lentas, as suspending que ficam paradas na meia água, etc. 
Cada uma requer o seu próprio trabalho, e aqui cabe ressaltar a questão da apresentação da isca. 
Alguns fabricantes conseguiram produzir iscas que respondem melhor aos movimentos da vara, do que outras. 
Porém mesmo assim, é preciso treinar para obter o máximo da isca. 
Um bom exemplo é a cristal minnow da yo-zury, no tamanho sete, usada na pesca do robalo. 
Com treino, pode-se torna-la o engodo perfeito para aqueles dias que o robalo está um pouco mais ativo, porém fica na zona da meia água. 
Conheço pescadores que só usam esta isca, com grande sucesso. 
Mas veja bem, precisa treinar. 
O mundo da pesca com iscas artificiais é fabuloso. 
Existem centenas de macetes, dicas, truques, estratégias, que fazem de cada pescaria, uma aventura totalmente nova e diferente. 
No dicionário do pescador esportivo não existe a palavra rotina. 
Ele esta sempre experimentando alguma técnica nova, ou aperfeiçoando técnicas já conhecidas. 
Não conheço, e duvido que exista um só pescador esportivo que acredite que já atingiu o topo do conhecimento. 
Não tem um que seja tolo, a ponto de fazer tal afirmação. 
Quando o cidadão começa a achar que é o bom, vem aquela pescaria falhada, e derruba tudo. 
Outra mudança que acontece também, é na mentalidade do pescador. 
Na pesca esportiva, a captura do peixe, representa a vitória da estratégia adotada, e é isto o que proporciona maior prazer ao pescador, então o retorno do peixe vivo à água passa a ser uma coisa lógica, pois irá proporcionar novas capturas, que irão proporcionar prazer novamente, alimentando assim, um círculo vicioso de boas práticas. 
Também é comum o pescador esportivo acabar tornando-se um defensor ambiental dos mais ferrenhos, pois a preservação do meio ambiente, está intimamente ligada ao sucesso da pesca esportiva. 
E pensar que tudo começou, quando um humilde pescador, percebeu que podia pescar seus peixinhos com um pedaço de pau talhado a canivete..... 



(Matéria publicada no Jornal Pesca Brasil em 08/2010) 

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