segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Rolamentos em foco



Se para você o lema: “Quanto mais rolamentos, melhor” é o que manda na hora de escolher uma carretilha. Melhor mesmo é entender mais sobre esse pequeno componente presente em nossas queridas máquinas de pesca

Texto e fotos Fábio Terashima

Quem nunca viu alguém – seja um leigo, pescador ou lojista – se vangloriar por possuir na bolsa de pesca ou no balcão de sua loja uma carretilha ou molinete com oito, dez ou até quinze rolamentos? De fato, eles estão presentes na grande maioria das nossas máquinas de pesca e são elementos essenciais para seu bom funcionamento. Mas é um equívoco relacionar a quantidade de rolamentos com a qualidade do equipamento, como veremos a seguir.

Tipos e estrutura
O uso de rolamentos parte do princípio que a diminuição do atrito proporciona maior durabilidade, performance e maciez no funcionamento de uma máquina. Em simples palavras, é como dizer que as coisas “rolam” melhor do que se “arrastam”.

Nas carretilhas e molinetes, são dois os tipos de rolamentos comumente utilizados: os radiais de esferas, indicados para altas rotações, e os de rolete com sentido único, que são os famosos antirreversos instantâneos.

A estrutura de um rolamento é composta pelos “corpos rolantes” (esferas ou roletes), separados homogeneamente por uma “gaiola” que roda sobre os anéis (pistas) internos e externos.

A gaiola distribui as esferas, conduzindo-as na pista durante a rotação. Já a blindagem tem a função de impedir a entrada de impurezas e reter a lubrificação. Porém, diversos modelos a dispensam devido à alta resistência dos componentes internos, facilitando a manutenção. Os materiais utilizados na fabricação da peça podem ser os mais diversos, na pesca, o aço é o mais comum.

O grande segredo de um rolamento é a maneira como ele é produzido. O Comitê de Engenharia de Rolamentos Anulares (ABEC) criou uma escala internacional de 1 a 9 que classifica um rolamento quanto à sua perfeição. A classificação leva em consideração fatores como a precisão das medidas internas, externas, folgas e deformidades das esferas.

Quanto maior o índice ABEC, mais eficiente, suave, livre de vibrações e, por que não, mais duradouro o rolamento, principalmente em altas rotações. Normalmente, molinetes e carretilhas de marcas conhecidas possuem rolamentos ABEC 1, os modelos topo de linha chegam a ser equipados com rolamentos ABEC 3.

Na prática
Dentro das carretilhas, o emprego mais relevante dos rolamentos é no carretel. Afinal, quanto mais livre e suave for o seu giro, maior a quantidade de linha liberada e maior a distância do arremesso. Logicamente, desde que nenhuma inconveniente cabeleira atrapalhe o movimento.

Já nos molinetes, os rolamentos mais exigidos são os das engrenagens e o do rolete do guia-fio. No primeiro caso, a peça ajuda a suavizar o atrito proporcionado pela coroa e o pinhão. No segundo, colabora com o rodar do rolete que apoia a linha, tanto no ato de enrolar quanto na pressão de um grande peixe tomando linha e exigindo a fricção.

Carretilhas com funcionamento áspero ou até mesmo “travado” provavelmente indicam algum rolamento com problemas. Isso acontece porque, depois de muito uso, mesmo que somente em água doce, o rolamento perde a lubrificação. E esta é essencial para fazer as esferas rodarem com mais suavidade e na proteção contra a ferrugem.

Para rolamentos de alta rotação, como os dos carretéis das carretilhas, indica-se o uso de óleos mais finos – e com moderação! Nada de encharcar o rolamento, porque o excesso de óleo pode, sim, prejudicar os arremessos. Normalmente, carretilhas e molinetes novos, com lubrificação original de fábrica, não possuem bom desempenho logo nos primeiros arremessos devido ao excesso de óleo para seu armazenamento por tempo indeterminado. Isso explica o porquê daquela sua carretilha “velhinha” às vezes pinchar tanto. Em rolamentos próximos a engrenagens e eixos, o uso de óleos mais viscosos proporciona mais maciez.

Muito cuidado com a água salgada. Ela é extremamente prejudicial, podendo travar rápida e facilmente um rolamento. Atualmente, os grandes fabricantes equipam as carretilhas e molinetes com rolamentos dotados de propriedades anticorrosivas. A Shimano possui a patente AR-B (Anti Rust Bearing, ou “rolamento anticorrosão”), que, justamente pela ausência de blindagem, expulsa com maior facilidade as partículas de sujeira e propiciam uma manutenção mais simples. Tais rolamentos são feitos de aço inox, com revestimento cerâmico.

A Daiwa, por sua vez, desenvolveu o CRBB (Corrosion Resistant Ball Bearing, ou “rolamento resistente à corrosão”), que parte do mesmo princípio de revestimento do aço inox da Shimano, porém com blindagem para evitar o acúmulo de cristais de sal.

A Quantum foi mais longe e criou a série PT – Performance Tuned, com gaiola de polímero, visto que a maioria dos demais possui essa parte em aço estampado, mais sensível à corrosão.

Para os mais exigentes, é possível turbinar suas carretilhas com rolamentos híbridos destinados a altíssimas performance, com ABEC 5 a 7, anéis/pista de aço inox e esferas de cerâmica do tipo SiC, o mesmo material usado nos anéis de passadores das varas. Nesses casos, convém substituir somente os rolamentos que compõem o carretel, que são geralmente dois ou três. Porém, a brincadeira tem seu custo: até US$ 20 por rolamento.

Antirreverso instantâneo?
O sistema antirreverso existe para evitar que a manivela do molinete ou carretilha rode para trás ao se fisgar um peixe, ou durante o simples trabalho ou recolhimento de uma isca. Antigamente, o sistema era constituído por uma catraca, porém não era muito eficiente, já que só travava completamente após quase ¼ de volta retrógrada. Hoje, a grande maioria dos equipamentos é dotado de rolamentos com roletes de sentido único que travam quase que instantaneamente, melhorando as fisgadas e evitando trancos durante o procedimento. Tanto é que os manuais já trazem a especificação de “X” rolamentos de esferas + 1 de roletes

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